Que sejamos as mesmas? Que tenhamos a mesma disponibilidade? Que a maternidade não interfira em todo resto? O mundo espera o impossível.
Olho pra essa foto, indo atrasada pra uma agenda. Rosto cansado, short amassado, Moana tomando o café da manhã pelo elevador. A sandália nas mãos, não deu tempo de calçar. As unhas por fazer – como quase sempre desde que pari. O tempo. O relógio. A cobrança. O medo de não dar conta. A certeza de que é impossível dar conta. A culpa.
O que o mundo espera de nós, mães na política? A mesma frequência de agenda? A mesma velocidade de resposta? Porque esperam que pareçamos intactas se, indiscutivelmente, não somos as mesmas?
Eu olho pra essa foto e sinto vontade de gritar pra todo mundo que faz política comigo que sou mãe. Renasci. E que esse meu renascimento torna tudo mais complexo – quantas horas de agenda? Que horas? Tem espaço pras crianças? Vai ter violência no ato? Vai estar muito cheio? Da pra levar a neném? Nem todo mundo entende as perguntas, as novidades e, em alguns momentos, os imprevistos e ausências. O mais grave é que nem todo mundo entende a potência que é ter mães na política. Tudo é mais complexo, mas mais completo. A dimensão do real, da política concreta, ganha forma quando a gente é mãe e faz política. São tantas lutas visibilizadas. Tantos silêncios rompidos. Tanto caminho apontado.
Eu tô exausta com as cobranças e demandas infinitas, mas feliz. E segura de que nosso mandato tem uma importância indiscutível: licença parental, trabalho materno contando pra aposentadoria, parto com respeito. Quantos temas estão traduzidos em iniciativas legislativas? Recursos pra maternidades e casa de parto, pro SUS que olha e acolhe a mulher, pra projetos de mulheres mães das favelas, pra mães estudantes. Quanta prioridade pras esquecidas? Não sou a mesma. Mas gosto do que sou e do que somos. Me orgulho do que o nosso mandato se tornou, apesar dos perrengues.
Estou exausta, queria estar com a unha feita e dormindo mais, mas tenho certeza que somos gigantes. Meu beijo pra cada mãe que tá no corre, nesse Brasil com 20 milhões sem comer. Vocês são esperança e fazem, sem a menor dúvida, a roda girar!
Texto: Talíria Petrone – Professora de História, negra, feminista, ecossocialista e deputada federal pelo Rio de Janeiro
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