Ouvimos do Ministro Paulo Guedes que toda grana que seria “recuperada”, com a reforma da previdência em 10 anos, está sendo disponibilizada pelo governo federal nas últimas semanas. No Brasil, como em todo o planeta, está aberta uma imensa disputa de rumos da sociedade.

Porquê?

Por quê uma pandemia identificada e analisada cientificamente por universidades e centros de pesquisa tomou conta do planeta e situações diferentes começam a ser vistas, ouvidas e praticadas cotidianamente.

Classificação da OMS para doença que pode chegar a contagiar todos os habitantes do mundo. A peste negra foi uma das maiores pandemias e atingiu boa parte da Europa no século XIV. Pode ter matado até 200 milhões de pessoas. A AIDS descoberta na década de 1970 ainda contamina milhões de pessoas. O coronavírus, surgiu em 2019, foi declarado como pandemia pela OMS em 11 de março de 2020.

Entre elas:

  1. O SUS brasileiro é, de verdade, um imenso seguro de saúde universal que durante décadas vem sendo defendido por sanitaristas, militantes de esquerda e pesquisadores.
  2. Existe muito mais dinheiro disponível nos cofres dos governos federais em todos os continentes que qualquer informação anteriormente veiculada nos meios de comunicação de massas. Essa constatação a partir das “despesas” ou “investimentos” realizados para combater o corona vírus, possibilita o estabelecimento imediato de políticas públicas de enfrentamento à miséria e a fome;
  3. No Brasil, diante um governo ultra neoliberal, com um presidente desqualificado, como que do nada, surge um deputado federal conservador, medico especialista, que veste o colete do SUS, senta-se na cadeira do ministério da saúde e em poucos dias se constitui em alternativa de direita ao seu insano, doente e violento governo.

A chegada do Corona Vírus, demonstrou a importância estratégica da rede de atenção básica do SUS através das unidades básicas de saúde (UBS) e das unidades de pronto atendimento (UPAS); do serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU), dos hospitais municipais, estaduais e universitários; dos centros de pesquisa, em especial da fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e aqui no RN destacam-se o laboratório de inovação tecnológica em saúde (LAIS), o hospital universitário Onofre Lopes(HUOL) e o Instituto de Medicina Tropical todos da UFRN.

Luiz Henrique Mandetta é graduado em medicina pela Universidade de Gama Filho (RJ–1989) e pós-graduação em ortopedia pela UF de Mato Grosso do Sul. Obteve especialização de ortopedia pediátrica no EUA. É especialista em gestão de serviços e sistema de saúde pela Fundação Getúlio Vargas. Médico no Hospital Geral do Exército, compõe o quadro da Santa Casa de Campo Grande e é professor UFMS e do Hospital Universitário. Foi Secretário de Saúde e deputado federal (DEM-MS).

Mas esse modelo de saúde pública humanizada, articulada intersetorialmente que promove saúde e cidadania é sistematicamente atacado. Atacado ideologicamente; pelo desenho das redes pública/privada e principalmente pelo histórico sub financiamento da saúde. A mercantilização, a disseminação dos planos como única alternativa e a transferência de recursos públicos para a rede privada em função do sucateamento e da superlotação dos hospitais públicos.

Assim, sub financiado, atacado e desvalorizado por setores da mídia, por governos e parlamentares conservadores, coloca-se uma nuvem sobre a importância e o papel estratégico do SUS, aparecendo como única saída a privatização dos serviços.

E nós que defendemos o SUS, o que precisamos fazer?

Em primeiro lugar, prevenir-se, ficar em casa, alterar hábitos, reeducar-se. Ao isolamento social, difusão massiva dos testes, imediata transferência financeira a título de renda mínima de cidadania, somam-se as urgências de maior oferta de leitos hospitalares e unidades de tratamento intensivo, diretamente relacionadas à saúde.

Organizar a política é o passo seguinte e simultâneo. Mesmo estando com medo, trabalhando em novo ritmo, pensando e sofrendo, é urgente e necessária a construção de uma nova cultura institucional e popular. Temos visto a beleza da solidariedade entre as gerações e precisamos aprender durante a crise e universalizar novas práticas após sua superação:

# A solidariedade com as populações que vivem em situação vulnerabilidade social;

# A renda mínima de cidadania permanecer como política pública;

# Reinserir soberanamente o Brasil no contexto internacional. Os BRICS estarão (após a crise) mais atuais que nunca;

# Radicalizar o conceito de saúde como bem-estar integral da população (ou seja de todos e todas), articulando políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar (alimentação +saudável) com o tema ambiental; o resgate cultural da fitoterapia, a valorização das práticas integrativas, a prática do esporte, do lazer e da cultura como valores estratégicos em diálogo com a saúde física e mental dos seres humanos;

# Manter práticas de higienização e o controle sanitário em ambientes como as feiras livres, os transportes de passageiros, as instalações que comercializam alimentos e principalmente oferecer moradia digna, com agua tratada e saneamento básico para todos os brasileiros;

# Manter as estruturas físicas construídas e adaptadas sob a coordenação do Ministério da Saúde ampliando significativamente o financiamento do SUS, as vagas e novos cursos técnicos e superiores na área da saúde. Redirecionar a indústria nacional para a produção de bens que proporcionem maior conforto e qualidade de vida a nossa população;

# Desenvolver imediatamente após a superação da pandemia, um plano de obras públicas, que gerem empregos, renda e qualidade de vida.

Não vamos pensar que “após o corona vírus” a vida voltará ao que era antes. A disputa de narrativas que temos visto se manterão e até serão aprofundadas. Os impactos nos relacionamentos humanos serão tamanhos e cada dia estarão mais presentes. Por um lado o comportamento individualista (neoliberal e xenófobo), incentivado por um governo ultra neoliberal, de extrema direita que não vai executar com empenho as poucas e insuficientes medidas aprovadas no congresso. Assim, o enfrentamento simultâneo das dimensões sanitária, econômica, política e cultural da crise está a nos exigir uma postura humanista, radicalmente democrática e libertadora.

Novos pactos de convivência, legislações específicas, novos costumes estarão sendo estabelecidos. Mudanças profundas acontecerão após a pandemia. Com repercussões positivas ou não para os trabalhadores. Hoje, mas que nunca, a luta para salvar vidas é indissociável da defesa do emprego, da renda e da democracia.

Fica, assim, o convite para construirmos ambientes mais saudáveis, praticarmos mais esportes e viver com mais tempo para o lazer e a cultura.

 

Teresa Freire, psicóloga e sanitarista

Hugo Manso, engenheiro e professor do IFRN