Professora do IFRN cria diário para recuperar memória e estimular cérebro após vencer a COVID-19

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O primeiro pedido à família feito pela professora de línguas do IFRN Iaçonara Albuquerque, assim que acordou já fora da UTI onde permaneceu por cinco dias, foi o livro “Torto Arado”, do escritor Itamar Vieira Júnior. Iaçonara queria saber se o cérebro estava funcionando em perfeitas condições como antes de ser acometida pela covid-19. A doença provocou inflamação no cérebro da professora, que ficou ao todo 12 dias internada, entre quarto e UTI. Ela segue em tratamento tomando medicação e fazendo exames:

 – Meu cérebro foi tomado pela covid-19, só fui entender quando saí do hospital. Mesmo depois pensei que fosse voltar ao hospital, pensei que meu cérebro fosse explodir. Meus irmãos falavam comigo, eu via, mas é como se eu estivesse fora do meu corpo. Estou fazendo um diário recuperando a memória que não tive por estar desacordada”, contou.

A professora Iaçonara Albuquerque deu um depoimento forte e emocionante ao Balbúrdia especial realizado sábado (21). O programa transmitiu ao vivo em Natal as manifestações por mais vacina, comida no prato e que pediam o impeachment de Bolsonaro. A entrevista com Iaçonara e os demais convidados está disponível no canal da agência Saiba Mais do Youtube. Na mesma data, o Brasil atingiu a marca de 500 mil mortos.

Esportista, sem problema de saúde e em plena forma física, Iaçonara é um exemplo de como a doença não atinge só pessoas com comorbidade. Ela lembra inclusive que a preocupação maior da família era com a mãe, de quase 80 anos, e com um sobrinho obeso. Ambos tiveram a doença de forma leve, apenas ela precisou ser internada na UTI:

– Acho esse depoimento importante para as pessoas saberem que uma pessoa em plena forma física também pode pegar a doença. Eu estaria vacinada hoje pela idade e por ser professora, não ainda posso ser porque tive covid-19 recentemente e estou tomando remédios fortes”, explica.

Iaçonara defende a ciência. E por isso mesmo achou estranho quando um dos primeiros médicos que a atendeu, ainda na fase de confirmar o diagnóstico, perguntou a ela se acreditava em tratamento precoce. Estranho por já estar com os sintomas da covid-19. E mesmo dizendo que “não”, a receita veio com a prescrição do remédio Anita, usado no combate a vermes.

– Se eu já fui fazer o exame, estava com os sintomas, que tratamento precoce é esse ? Essa é a pergunta que me faço”, questiona.

Iaçonara com o irmão Mozart Albuquerque logo após a professora deixar o hospital / foto: cedida

O diário criado pela professora é uma forma de estimular o cérebro e recuperar a memória do período em que permaneceu em coma induzido. Leitora voraz, ela sabe que ainda não pode ler o quanto desejava, mas o exercício, ainda que aos poucos, ajuda:

– Eu não posso ficar muito tempo lendo, a leitura faz muitas conexões cerebrais. Mas fui ver se eu tinha raciocínio lógico, se conseguia reter o que estava lendo. Estou anotando as coisas, meu irmão conta o que foi ‘assim ou assado’. Mas não consigo ficar muito tempo lendo”, disse.

Além de centenas de mensagem de carinho de alunos, colegas, amigos e admiradores, Iaçonara cita uma mensagem em especial, de uma amiga psicóloga:

– Ela disse que estava encantada e falou: “você não esqueceu quem você é: você se constitui na leitura, você se constitui na linguagem”. Acho que esse é um momento para pensar na importância da leitura também. Paulo Freire dizia que ‘a leitura do mundo precede a leitura da palavra’. Mas a leitura da palavra proporciona também uma leitura melhor do mundo”, reflete

Não foi sorte

Iaçonara Albuquerque sempre deixou claro suas posições políticas pautadas pela defesa da democracia e dos direitos humanos. E ressalta, após sobreviver à covid-19, que não há qualquer possibilidade de diálogo com pessoas que desdenham da morte ou de uma pandemia:

– Quase me tornei um número deste pandemônio nesta pandemia. Um camarada que tira onda com alguém que está sufocado por não conseguir respirar e faz gracinha com isso… não é possível dialogar com uma pessoa dessa. Ela está fora da possibilidade de diálogo quando tripudia da dor de uma família, quando tripudia da vida”, diz.

Para a professora, escapar da morte não foi sorte. E acredita que todo o drama que viveu poderia ter sido evitado se o presidente da República não tivesse recusado a compra de vacinas ainda em 2020:

– Não foi sorte, mas foi devido à falta de vacina, à falta de investimento na vacina. Eu poderia não estar passando pelo que estou passando. Agradeço a todos que emanaram boas energias, mas desde o começo estou na luta por mais vacina, pelo respeito ao direito de viver”, afirmou.

Assista a entrevista da professora Iaçonara Albuquerque na íntegra: https://youtu.be/F5n1GcWgj04

Com informações da Agência Saiba Mais

 

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