A mesa, LBTQIA+ e cultura sindical: o (não) lugar na política, foi um dos destaques do 3º Encontro Nacional de Mulheres do SINASEFE. A discussão foi iniciada pela mediadora da mesa, Fernanda Rosá, secretária-adjunta da Coordenação de Políticas para Mulheres. Segundo Fernanda, ainda é um desafio pautar a temática LBTQIA+ no movimento sindical. “Mesmo com os avanços significativos que tivemos nos últimos anos, a pauta das pessoas LBTQIA+ sofre resistência no meio sindical e muitas vezes é tido como um debate menos importante”, comentou.

Em seguida, Fernanda passou o bastão para as palestrantes Sara Wagner e Jenni Dantas. Sara começou sua fala contando um pouco da sua história e destacando a importância da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4275, que versa sobre a mudança de nome e gênero.

Sobre a transição de sexo compulsória, a professora destacou a leitura do livro Jacob(y): “entre os Sexos” e Cardiopatias, o que o fez Anjo? Na obra, a autora Thais Emilia de Campos dos Santos conta sua trajetória como mãe de Jacob, bebê intersexo que marca a luta pela dignidade de bebês intersexo no Brasil e no Mundo. O livro também trata sobre o processo de libertação da autora de um relacionamento abusivo e de quase ser morta por seu ex-companheiro.

Após a fala de Sara, Jenni Dantas seguiu com o debate. A educadora lembrou as participantes que o Encontro Nacional de Mulheres é um marco histórico para o sindicato, pois somente em 2018, quase 30 anos após a fundação da entidade nacional, foi possível realizar um evento totalmente direcionado a discutir a pauta das mulheres. “Isso aqui é parte da construção de um novo paradigma sindical, e somos nós quem estamos fazendo isso”, festejou Jenni.

Jenni também contou um pouco de sua trajetória e de como foi o processo para se reconhecer como uma mulher lésbica e posteriormente como uma pessoa não-binária (pessoas que não se percebem como pertencentes a um gênero único). Segundo a palestrante, após esse reconhecimento ela percebeu que precisava estar na política e na luta. “Eu não escolhi a luta ou a política, eu entendi que eu precisava estar nesse lugar para sobreviver, ou eu luto ou eu morro”, comentou emocionada.

O segundo debate do dia foi a mesa, Violências contra as Mulheres: do Luto à Luta. A primeira palestrante, Regina Célia, cofundadora do Instituto Maria da Penha, iniciou sua fala lendo a descrição da tentativa de feminicídio de Maria da Penha em 29 de maio de 1983. O relato duro emocionou a plateia e expôs mais uma vez o horror da violência contra a mulher. Segundo Regina, é preciso estar atento à subnotificação. “Sabemos que o número de denúncias nunca correspondem à realidade. Quando se trata de violência contra a mulher há uma enorme subnotificação. Me preocupo muito quando chego em uma comunidade e as autoridades me dizem que ‘aqui estamos conseguindo controlar, aqui só tivemos dois casos’, isso nunca é real”.

Regina Célia convocou as mulheres a não baixarem a guarda e a não aceitarem retrocessos na Lei Maria da Penha. “A Lei Maria da Penha é uma lei para todas as mulheres. Foi a partir dela que conseguimos realizar um importante trabalho de proteção às mulheres vítimas de violência, dos seus filhos e sua família”. Regina finalizou sua fala exibindo um vídeo de um Podcast da Rádio Jovem Pan. Nele, o psicanalista Ricardo Ventura afirma que Maria da Penha nunca sofreu agressão por parte do marido, Marco Antonio Heredia Viveros, e que o próprio Marco Antonio escreveu um livro relatando que as agressões e a tentativa de feminicídio de Maria não existiram. Numa demonstração clara de como os meios de comunicação estão sendo usados para compartilhar fake news e descontruir a luta das mulheres.

Em seguida, a palestrante Valeska Zanello, pesquisadora da área de saúde mental e gênero, trouxe mais alguns elementos para a explicar como a violência de gênero ocorre no nosso cotidiano. De acordo com Valeska, vivemos numa cultura que desresponsabiliza os homens, mas hiper responsabiliza as mulheres, que ensina homens a se amarem e as mulheres a amarem os homens. “Na nossa cultura, as mulheres são postas em um tipo de ‘prateleira do amor’, que tem como métrica um ideal estético que é branco, louro, magro e jovem. Quanto mais distante desse ideal, pior o lugar da mulher na prateleira. Mulheres negras, gordas, mulheres velhas, mulheres indígenas ocupam o pior lugar dessa prateleira, mas no final a prateleira é ruim para todas”, explica a pesquisadora.

Segunda Valeska, essa ótica de objetificação da mulher se torna ainda pior, pois a sociedade ensina as mulheres que elas precisam ser escolhidas por um homem para serem validadas, que a mulher solteira é sempre uma mulher fracassada. “Muitas vezes as mulheres se submetem a relacionamentos ruins, violentos para se manter na posição da mulher que tem um marido, um namorado. Essa mulher apaga os seus desejos e se cala para atender uma demanda social que a massacra”, finalizou Valeska.

Representaram a Seção Natal no Encontro, as servidoras Izabel Almeida (Campus Natal-Central), Erivanda Tavares (Aposentada), Nadja Costa (Campus Natal-Central), Monique Dias (Campus São Paulo do Potengi), Janaína Gonçalves (Campus Macau), Fátima Oliveira (Campus São Paulo do Potengi); a pesquisadora do Negêdi/IFRN e Neabi, Meyriane Costa; e as funcionárias do sindicato, Edivânia Santos, Rita de Cássia Paulino e Alice Duckhouse.

O 3º Encontro Nacional de Mulheres do SINASEFE foi finalizado no domingo e reuniu mais de 500 mulheres organizadas em 47 seções sindicais. Acompanhe toda a cobertura e a participação da Seção Natal no nosso site e redes sociais.

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