Ex-candidato à presidência da República pelo PSOL, o professor e ativista Guilherme Boulos levou uma multidão para o ginásio do IFRN central no início da tarde desta quarta-feira (15), onde deu uma aula pública como parte da programação, em Natal, das manifestações em defesa da Educação.
O líder do movimento dos Trabalhadores Sem Teto falou por cerca de meia hora a um público atento e que o aplaudia sempre que ouvia uma frase de efeito, geralmente crítica ao presidente Jair Bolsonaro, principal alvo dos protestos em todo o país.
Além de professores, estudantes e militantes, os deputados estaduais Isolda Dantas (PT) e Francisco do PT acompanharam a aula.
O Sinasefe e o PSOL foram responsáveis pela vida de Guilherme Boulos, que começou citando as agressões de Bolsonaro aos estudantes e professores que participaram das manifestações pela Educação:
– “Ele disse lá nos Estados Unidos que nós que estamos hoje nas ruas somos idiotas úteis. Quem ocupa a cadeira principal do Palácio do Planalto é um idiota inútil”, disparou antes de ser ovacionado pela plateia.
As manifestações que levaram multidões às ruas nesta quarta-feira tanto pela manhã como à tarde deixaram Boulos animado em relação à resposta da sociedade aos ataques de Bolsonaro à Educação:
– O medo começa a mudar de lado. Bolsonaro não se sustenta com essa reação. Ele pode até não suspender os cortes agora porque faz birra, mas a pressão popular vai funcionar.
Boulos falou sobre os cortes na Educação e fez uma conta simples para desmontar o discurso do Governo. Ele lembrou que os bloqueios em todas as áreas do setor chegaram a R$ 7,4 bilhões, incluindo os cortes na educação básica. Em contrapartida, a imprensa divulgou que Bolsonaro se comprometeu a liberar R$ 40 milhões em emendas para cada deputado que votasse a favor da Reforma da Previdência:
– Se você pegar 308 deputados (número mínimo que o Governo precisa conseguir para aprovar o projeto) e multiplicar por R$ 40 milhões vai dar mais de R$ 12 bilhões, ou seja, é quase o dobro do que ele cortou na Educação. Como diria o nosso Darcy Ribeiro, a crise na educação não é crise, mas um projeto”, afirmou.
É impossível não lembrar do ex-presidente Lula regendo multidões quando Guilherme Boulos pega o microfone e conduz um ginásio lotado, como o do IFRN. A voz rouca, o encantamento do público e as frases de efeito são semelhanças visíveis entre as duas lideranças.
Para o ativista, o medo maior do Governo é ver as periferias ampliarem seus espaços na sociedade:
– Eles temem ver isso (apontou para o público). Eles temem ver tanto negros, LGBTs, indígenas. É por isso que eles têm tanto medo de Paulo Freire”, afirmou para, mais uma vez, ser bastante aplaudido.
Guilherme Boulos reforçou que a luta dos estudantes e trabalhadores do país também deve ter espaço para lembrar a memória de Marielle Franco, vereadora do PSOL executada com quatro tiros na cabeça em 14 de março de 2018:
– Eles dizem que, para nós, a vida de Marielle vale mais do que as outras vidas. E isso não é verdade. Toda vida tem o mesmo valor. Só que Marielle foi vítima de um assassinato político e morreu por aquilo que ela representava.
O ex-presidente Lula também foi lembrado pelo líder do MTST, que criticou o ministro da Justiça Sérgio Moro. Neste momento, o ginásio quase veio abaixo:
– Nós também precisamos lutar pela liberdade do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e contra a injusta prisão dele.
Sobre a esquerda brasileira, Guilherme Boulos disse ser necessária uma autocrítica, mas pediu unidade a partir dos pontos comuns:
– As divergências entre nós são muito menores do que as divergências com eles. Por isso precisamos de unidade, da esquerda com movimentos sociais, com os partidos de esquerda. É a defesa da democracia que está em jogo.
A questão vai muito além dos cortes na Educação, avalia Guilherme Boulos. O projeto não é apenas reduzir investimentos, mas desvirtuar o sentido da Educação no país:
– É por isso que eles atacam as ciências humanas. Porque para eles interessa desvirtuar o sentido da Educação. Para essa gente, o conceito de Educação é formar peças, engrenagens que saibam apenas ler, escrever e fazer conta. Esse é um governo que gosta mais de miliciano do que de professor. Agora, o livro você pode até mudar, mas a história você não muda.
*Texto e imagens cedidos pelo Portal de Notícias Saiba Mais