Em 30 de julho, o Comitê de Greve Estudantil da UFRN (CGEUFRN) fez uma chamada para a greve estudantil na instituição contra o retorno obrigatório do semestre. Os alunos entendem que a universidade não considerou as desigualdades existentes entre os estudantes e que o processo foi imposto de forma antidemocrática.
De acordo com o Comitê, “a forma como esse retorno foi imposto excluirá uma parcela significativa dos cerca de 30.000 estudantes matriculados no Semestre 2020.1, ampliando os problemas de exclusão estruturais que já existem nas Universidades públicas, além de ameaçar as parcelas mais vulneráveis”.
No dia 11 de agosto, o Comitê publicou um texto falando que a greve estudantil da UFRN é “pela vida. Pelas vidas dos mais vulneráveis, principalmente”. Confira na íntegra:
Por que fazemos greve? Pela vida. Pelas vidas dos mais vulneráveis, principalmente. Esse último fim de semana batemos a marca de 100.000 mortes pela covid-19 (lembrando que esses são os números oficiais, sem considerar as subnotificações), a maior parte dessas pessoas são das classes exploradas, jovens pretos de periferias. Isso porque nossas “autoridades” se preocupam mais em “salvar a economia” e em gerar popularidade junto ao eleitorado, do que adotar medidas eficazes na contenção da expansão do contágio. As elites, que garantem seu estilo de vida via a exploração do excedente de produção do proletariado, fazem manifestações públicas pelo retorno das atividades comerciais (temendo a queda de seus lucros) obedecendo as medidas de distanciamento de dentro de seus carros (a maioria importados), enquanto isso as pessoas que exercerão essa retomada terão, para tanto, que circular para seus postos de serviços usando transportes coletivos, nos quais é impossível obedecer às medidas de distanciamento. Percebemos que essas medidas relegam o pior às pessoas mais vulneráveis, onde o menos pior não garante a manutenção da saúde destas (mesmo que seus postos de trabalho ofereçam todos os EPIs e demais medidas de segurança sanitária), nem de suas famílias. As elites, por sua vez, podem se isolar em condomínios de luxo e resorts, casas de campo ou de praia, apenas gerenciando remotamente a exploração das riquezas produzidas pela força de trabalho daqueles outros. Ao invés do Governo Federal está buscando aumentar o número de leitos, financiar a ciência e taxar as grandes fortunas (que garantiria o lastro para um fundo emergencial para subsidiar auxílios financeiros para as classes exploradas), está investindo milhões de reais na compra de medicamentos sem comprovação de eficácia no tratamento da covid-19, financiando bancos com trilhões de reais, agroindústria com bilhões e mais outros bilhões para outros setores empresariais, como aviação comercial, por exemplo. Na educação não é diferente. Ao invés de estarmos discutindo (enquanto comunidade acadêmica) porque várias bolsas de iniciação científica foram cortadas (e o que fazermos coletivamente para reavê-las), porque e como o racismo é tão bem estruturado cultural e institucionalmente em nossa sociedade e o que fazer para superarmos-o de fato, o que foi o fascismo europeu, quais suas características e como este se adequa a atual realidade brasileira, como amplia e aprofunda desigualdades e vulnerabilidades dos mais necessitados, assim como qual a natureza da crise política e institucional do Estado Democrático de Direitos, suas causas e efeitos, estamos debatendo o valor de um auxílio instrumental para acompanhar aulas à distância como se o prosseguimento de nossos currículos e a conquista de nossos diplomas fosse o melhor a fazermos enquanto setor privilegiado da sociedade no que tange o acesso a cultura e informações de alto nível. Dessa forma estamos apenas colaborando com o chamado “novo normal”, mas milhares de pessoas continuam morrendo diariamente, outros milhares estão alijados de suas vagas no ensino superior (e sequer podem requerer o alardeado auxílio instrumental), e os gestores universitários, muitos docentes e parte de setores do Movimento Estudantil, fingem que encenar um processo de ensino e aprendizagem é o melhor que temos a fazer. Nossa greve estudantil, portanto, é uma greve pela vida. Pelas vidas das pessoas das bases da sociedade que constroem, mantém e fazem funcionar esta.
▪️ FB: https://www.facebook.com/Greve-Estudantil-UFRN-119733366498350/
▪️ INSTA: https://instagram.com/greveestudantilufrn?igshid=1ojx2u7fpe4c1
▪️ TWITTER: https://twitter.com/GreveUfrn?s=08
Comitê de Greve Estudantil da UFRN (CGEUFRN)
#SINASEFEnaLuta
#GreveEstudantilUFRN