O 2º Encontro de Negras, Negros, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ), realizado em Maceió-AL, entre os dias 22 e 26 de março, com o tema “Malungas, Malungos e Parentes na terra de Palmares! Nossa luta, nosso sindicato!” superou as expectativas de público e movimentará as discussões na Seção Natal e nas diversas seções sindicais do SINASEFE e nos seus fóruns nacionais.

O evento reuniu 301 sindicalizadas/os, entre docentes e TAEs, contou com seis conferências temáticas, quatro oficinas, apresentações culturais durante todo o encontro e um dia de visita guiada. O evento foi finalizado com os tradicionais Grupos de Trabalho (GTs) que debateram temas diversos e construíram uma série de propostas para serem apresentadas e apreciadas na 180ª PLENA do SINASEFE.

O 2º ENNIQ também recebeu a 5ª edição do Projeto Sinasefinho, iniciativa do grupo de mulheres do SINASEFE que maternam e visam possibilitar a participação das mães servidoras na vida sindical, bem como fortalecer a construção de uma proposta de educação não-formal.

O SINASEFE Natal esteve presente no evento através das servidoras Erivanda Tavares e Izabel Almeida, dirigentes do sindicato, os servidores Gilson Rodrigues Júnior (Campus Pau dos Ferros), Júlio César Alencar (Campus São Paulo do Potengi), Monique Oliveira (Campus São Paulo do Potengi) e Thulho Siqueira (Campus Zona Norte). A trabalhadora do sindicato, Edivânia Silva, também acompanhou o 2º ENNIQ e a professora do Campus do IFRN Natal-Central, Socorro Silva, foi uma das palestrantes do evento.

A mesa de abertura teve como tema “Enquanto houver racismo, não há democracia: a luta por direitos de Negres, Indígenas e quilombolas no Brasil”. Um dos destaques do momento foi o palestrante Nêgo Bispo. O escritor e estudioso quilombola ressaltou a resistência do povo dos quilombos e afirmou que o colonialismo é a origem de todos os males. “Queimaram Palmares, nasceu Canudos. Queimaram Canudos, nasceu Caldeirão. Queimaram Caldeirão, nasceu Pau de Colher, Queimaram Pau de Colher, nasceram tantas e outras nascerão, que eles vão cansar de queimar, pois mesmo que queimem a escrita, não queimarão a oralidade, mesmo que queimem os símbolos, não queimarão os significados, mesmo que queimem nossos corpos, não queimarão nossa ancestralidade”, finalizou, provocando aplausos do público.

No segundo dia de evento, a mesa “Aquilombar-se e aldear-se é preciso: em defesa das identidades e territorialidades no Brasil” foi marcada pelas falas voltadas para a necessidade de mobilização. Leonardo Péricles comentou que o poder popular no Brasil existe de forma micro, mas precisa ser posto na forma macro. Já Elionice Sacramento salientou que discutir territorialidade e identidade é, sobretudo, discutir a luta contra o capitalismo, e Givanildo Manoel reivindicou o reconhecimento às lutas indígenas, iniciadas desde a colonização.

A mesa seguinte, “10 anos das cotas raciais: em defesa das ações afirmativas e o (não) lugar do SINASEFE” provocou diversas interações do público. O servidor do IFRN, Thulho Siqueira, realizou a intervenção artística “Denegrir”, com apoio do também servidor do IFRN, Gilson Rodrigues Júnior. A performance teve a participação da plateia e foi um dos momentos mais emocionantes do dia. De acordo com Thulho, apesar de toda a resistência da população negra, ainda é comum e constante as tentativas de branqueamento dessa população.

Após o momento cultural, a mesa seguiu com os debates. Felipe Tuxá explicou que no início, as universidades públicas se negaram à implementação da política de cotas, mas que isso está mudando e as UFs tem tentado se adaptar para acolher esse público. Para Felipe, o grande debate hoje é provocar nos indígenas que entram no ensino superior, a necessidade e o desejo de dar uma “devolutiva” à aldeia através da formação que foi obtida. A debatedora Lígia Ferreira defendeu que as políticas afirmativas para pessoas negras, pessoas com deficiência (PCDs) e indígenas não estão tentando tirar vagas de outras pessoas, mas apenas reparando um longo histórico de negligência do Estado e da sociedade.

A mesa “Contra o racismo religioso: pela liberdade dos cultos das religiões de matrizes africanas e cosmologias indígenas” era uma das mais aguardadas pelos participantes do ENNIQ. O conferencista Pai Alex relembrou que durante toda a sua vida sofreu preconceito e que isso foi um impeditivo para que o sacerdote concluísse seus estudos formais. Para Alex, “enquanto o povo negro e os sacerdotes de umbanda não se unirem para formar a bancada do axé, não vai haver política pública contra o racismo religioso. Onde estão os vereadores, os deputados da Umbanda?”, questionou.

A palestrante Mãe Bábara louvou a pedagogia do terreiro. “A escola é uma escola do terreiro e não no terreiro”. Mãe Bárbara explicou que a academia não consegue dá conta de ensinar a história e a religiosidade dos povos tradicionais, de forma que a troca de experiências nos quilombos e aldeias é fundamental.

No terceiro dia de evento, o 2º ENNIQ pegou a estrada. Divididos em dois grupos, os participantes realizaram visitas guiadas ao Parque Memorial do Quilombo dos Palmares (em União dos Palmares-AL) e a Aldeia Mata da Cafurna (em Palmeira dos Índios-AL). A atividade ocorreu concomitantemente e cada participante escolheu o destino que preferia conhecer. A iniciativa visou permitir ao público conhecer e retornar a locais que são berços da ancestralidade brasileira e da luta pela liberdade.

Com as energias recarregadas pelo passeio do dia anterior, os participantes do ENNIQ iniciaram o quarto dia de atividades com a mesa “Práticas antirracistas na Rede Federal: o papel dos Neabs, Neabis e grupos correlatos no combate aos racismos”.

A palestrante Tâmara Lúcia comentou que é urgente quebrar a lógica institucional das escolas e mudar o currículo que usamos hoje. “A escola, a academia não dialogam com e nem financiam a prática antirracista e isso é extremamente grave”, afirmou a professora. O conferencista Edilson Baniwa elencou as legislações que garantem os direitos indígenas e o combate ao racismo e pontuou que existem ainda muitas dificuldades na garantia e aplicação desses direitos na prática.

A professora Socorro Silva, ex-coordenadora e militante histórica do SINASEFE Natal, chamou a atenção ao fato de que pensar uma educação antirracista é pensar em formas de garantir o acesso da população pobre (majoritariamente formada por negras, negros, indígenas e quilombolas) na Rede Federal de Educação.

Socorro também explicou que é fundamental uma articulação de todas as lutas contra as opressões: “educação antirracista passa pela articulação das lutas entre gênero, raça e classe”. A educadora lembrou também que é preciso respeitar a história de quem está na luta política a mais tempo e quem já está construindo. “Se hoje existem os Neabs, que tem um papel fundamental, institucional e sistêmico nas nossas instituições, é porque antes existiu a luta pelas cotas, a luta do movimento negro e a luta dos indígenas!”, exclamou.

A professora disse, ainda, que é urgente organizar as lutas, articular com o movimento feminista, com os movimentos sociais e com o movimento sindical. “Eu falo isso porque ninguém quer participar dos debates, quase ninguém quer se sindicalizar, quase ninguém quer participar das defesas do movimento sindical nas nossas instituições e é preciso estar presente para ocupar esses espaços e fazer a luta política. Sem a luta política não é possível avançar”, apontou.

No período da tarde, Malungas, Malungos e Parentes se dividiram em quatro Grupos de Trabalho (GTs) e debateram questões de gênero, raça, classe, etnia, políticas e ações afirmativas, necropolítica, etnocídio e o papel do sindicato na luta antirracista.

O quinto e último dia de trabalhos começou com mais uma apresentação cultural, seguida pela Plenária Final. Devido o grande volume de proposições nos Grupos de Trabalho (GTs), a Plenária Final não conseguiu realizar todas as deliberações necessárias, que serão concluídas no próximo sábado (01/04).

> Confira abaixo as impressões de parte da delegação do SINASEFE Natal sobre o evento:

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