“Existem homens que lutam um dia e são bons; existem outros que lutam um ano e são melhores; existem aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, existem os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis”.

Não foram poucas as vezes que a obra do dramaturgo alemão Bertolt Brecht foi citada na noite da última quinta-feira (15/12), no auditório do IFRN Campus Natal-Central. Emocionada, a direção do SINASEFE Seção Natal lançou, após meses de trabalho árduo e muita expectativa, um documentário comemorativo aos 25 anos da entidade, numa noite repleta de memórias e embalada por poesia, música, reencontros e cinema.

A película foi produzida pela Estandarte Filmes, do Coletivo de Comunicação Foque, e conta, ao longo de 40 minutos, um pouco da trajetória de luta da entidade e de seus membros. A ideia para o documentário partiu da gestão Diálogo e Transparência com a Base. O objetivo do filme é divulgar a história do sindicato e reconhecer o trabalho dos dirigentes, que ao longo da história estiveram lutando em defesa da educação pública e pela valorização dos servidores do IFRN.

O evento foi apresentado pelo ator Rodrigo Bico, que deu início à solenidade falando um pouco sobre o SINASEFE e declamando um poema sobre a luta operária. Em seguida, os professores Cesar Sanson (UFRN) e Júnior Souto subiram ao palco para uma discussão sobre a importância do movimento sindical e sua contribuição para a formação e o enfrentamento político.

De acordo com Cesar, o papel do Sindicato para os trabalhadores é fundamental. “É importante dizer que o movimento sindical não ficou restrito somente à luta pelos trabalhadores, ele avançou também para a arena política. Aqui no Brasil, particularmente em momentos de crise e de ruptura institucional, o movimento sindical foi um ator importante, no entanto, é inequívoco que os sindicatos sofrem uma crise profunda provocada pela ofensiva do capital contra o trabalho, nesse contexto é necessário que novamente esses grupos se fortaleçam e atuem numa contraofensiva”, comentou o professor.

Para Júnior Souto, a esquerda e o movimento sindical precisam produzir mais ideias. “Os partidos da esquerda estão se prendendo a discursos generalistas. É preciso debater as cidades, a urbanização, as comunidades, pois se debate muito pouco sobre essas questões. A ideia de militância tem que se pensar como um modo de vida. A militância não pode parar no seu partido, no seu conselho comunitário, ela precisa estar presente em todos os momentos da vida cotidiana. É preciso pensar a militância e fazê-la. Não é possível fazer mudanças apenas pelo WhatsApp, é preciso que haja medidas práticas”.

Após as falas dos palestrantes, foi dado início às homenagens. Foram homenageados: Lailson de Almeida, primeiro presidente do SINASEFE Natal; Iaçonara Miranda de Albuquerque e Maria Marieta Maia, primeiras dirigentes mulheres do sindicato; os membros do primeiro Conselho Fiscal, Willian de Oliveira Barreto, Josfan Antunes de Macêdo e Maria Marieta Maia. Recebeu a homenagem por ter sido a primeira mulher presidente e coordenadora da seção, a servidora Antônia Francimar da Silva. Como representante das trabalhadoras do sindicato, foi homenageada a funcionária Maria Laurinete da Silva. Representando a primeira sindicalizada, foi homenageada a servidora aposentada Maria Araújo Duarte de Carvalho e representando os mais novos sindicalizados, o professor Pablo Cruz Spinelli. Além destes, membros da diretoria do sindicato, ao longo desses 25 anos de história, também receberam homenagens.

Após esse momento, o coordenador geral Maurilio Gadelha, representando os demais dirigentes, falou sobre a trajetória do sindicato. “Foram muitas greves, assembleias, mobilizações e acontecimentos que marcaram nossa história e construiu um caminho para o exercício da política na melhor acepção da palavra. Construímos um espaço de mediação, troca e exercício dos desejos e vontades de uma coletividade e essa história não pode ser contada à revelia das pessoas que fizeram parte dessa luta. Foram esses homens e essas mulheres que dedicaram parte de seu tempo, muitas vezes deixando de lado suas inclinações momentâneas para lutar por objetivos coletivos. Nesse dia, estamos aqui para reconhecer o esforço de toda uma geração que ajudou a construir nosso sindicato, daí a justificativa de realizar este documentário”, concluiu o professor.

Com o fim da fala do coordenador Maurílio, aconteceu a exibição da película. O filme tem direção de Rogério Marques e fotografia, edição e montagem de Taian Marques. O roteiro seguiu uma ordem cronológica e passou por todas as gestões com depoimentos, documentos e fotos das ações promovidas pela entidade ao longo de seus 25 anos. Ao final da exibição os expectadores aplaudiram de pé.

De acordo com a professora Maria Marieta Maia, essa comemoração foi importantíssima. “A luta política sempre foi importante e sempre será. Aquele que não participa, que não discute política, não vivencia a política, está perdido, pois o mundo é movido pela política”, comentou a educadora. Sobre o documentário, Marieta discorreu que foi emocionante participar e depois ver no vídeo toda essa trajetória do sindicato. “Todos que vieram não vão se arrepender de ter vindo. Eu sinto muito pelos servidores que não participam desses momentos, porque aqueles que não participam não acompanham, não sabem o que estamos vivenciando”, completou Marieta Maia.

Segundo o educador Pablo Spinelli, a importância dos sindicatos de maneira geral se amplia em momentos de crise política. “Devido à capacidade que o sindicato tem em oferecer formação política para o servidor nos momentos de crise política e institucional, a entidade consegue se mostrar mais, mesmo para aqueles servidores que estão distantes. Eu, particularmente, era um servidor que não tinha muita proximidade com o sindicato, mas estou me sentindo muito mais próximo agora, por causa da conjuntura de crise, do movimento paredista, que me trouxe até o SINASEFE Natal. Se nessa conjuntura não existisse o SINASEFE, nós não teríamos condições de mobilizar tanta gente”, comentou.

Sobre o documentário, o professor se disse impressionado. “Eu pensava que o SINASEFE era uma instituição bem mais recente, então ver que o sindicato se constitui desde 1988 e veio se transformando ao longo desse período, me faz perceber que a entidade é amadurecida, o que me faz ter mais respeito por ela”, afirmou. O professor disse, ainda, ter gostado muito da película. “Foi um documentário muito emocionante, teve uma edição muito bem feita, não foi um filme chato, quem assistiu gostou do que viu”, finalizou Spinelli.

Para a coordenadora geral do sindicato, Socorro Silva, o evento teve o público que a direção queria atingir inicialmente. “Apesar da crise que os sindicatos passam no Brasil, o SINASEFE segue trabalhando com dedicação pela causa da educação e dos trabalhadores. Esta desestabilização da política que vivemos cria um descrédito nas instituições, que eu acredito ser reflexo de uma política que criminaliza os movimentos sociais e não estimula a participação política e social. Mesmo assim, o sindicato entende seu papel de agente formador de opinião”, comentou a professora.

A respeito do documentário, Socorro explicou que o filme tem o papel de trazer a história e a memória de todos que contribuíram até hoje com a causa sindical. “Toda a diretoria, os servidores sindicalizados, as funcionárias do sindicato, o Coletivo Foque que produziu um material de qualidade, todos que participaram, produziram ou contribuíram de alguma forma estão de parabéns. Tudo foi feito com muito carinho e dedicação e o bom resultado foi mérito desse compromisso”, parabenizou a educadora.

A coordenadora frisou, ainda, que é função do sindicato contribuir para formação de homens e mulheres incansáveis na luta, que acreditem na instituição, que acreditam na luta política e que acreditem que eles também fazem parte da transformação social. “Todas as nossas conquistas são resultado do trabalho de homens e mulheres que acreditaram numa sociedade melhor. E que venham mais 25 anos”, finalizou a coordenadora.

O lançamento foi encerrado com um coquetel, que contou com uma apresentação da Banda The Teachers, formada por professores do IFRN. No repertório, rock nacional e internacional com releituras de bandas e artistas como Beatles, Cazuza, Raul Seixas, Pink Floyd, Dire Straits, Duran Duran, entre outros clássicos que animaram o público.

Também prestigiaram o evento representantes do SINDPREVS/RN, SINDESIND/RN e Frente Brasil Popular.

Confira o documentário na íntegra:

 

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