Por Shilton Roque*
Uma das lições primeiras que aprendemos no movimento sindical é que este deve ser sempre um instrumento de uma luta maior e nunca um fim em si mesmo. As entidades sindicais jamais devem se deixar levar por nenhum apelo corporativista, resumindo suas lutas apenas a questões setoriais, como salário, carreira e afins.
Partindo desse pressuposto, acredito que, enquanto instrumento de luta, o sindicato serve para organizar a classe apontando para a busca da sua libertação. Libertação sim, pois nosso embate maior é pela posse direta de todos os momentos das nossas vidas. Enquanto estamos no trabalho, produzindo, seja para o enriquecimento do patrão ou seja para um governo que destina 45% do seu orçamento para banqueiros (que por sua vez financiarão mais ainda a exploração dos trabalhadores), estamos abrindo mão de parte de nossas vidas e entregando para outras pessoas.
Por isso, a principal luta dos trabalhadores ao longo do seu reconhecimento enquanto classe tem sido pela redução da jornada de trabalho. Não precisamos nem mencionar as condições nas quais viviam os operários no período conhecido como Revolução Industrial Inglesa nem rememorar os mártires de Chicago, pois todo ano temos o 1º de Maio como um dia de luta para reflexão e memória desses embates.
Essa problemática da jornada de trabalho voltou à tona na semana passada em nossos locais de trabalho, no IFRN. Acontece que um acórdão do Tribunal de Contas da União ordena que alguns setores do Instituto passem a adotar a jornada de trabalho de 8h diárias e não mais 6h, como fazem já há uma década. O problema maior não é a ordem vir de onde não se deve – pois não cabe ao TCU se sobrepor à autonomia dos Institutos -, mas como isso tem sido encarado por parte dos companheiros e dos dirigentes da escola.
Na última sexta-feira (30 de agosto), ocorreu reunião do CODIR, na qual estavam presentes todos os diretores dos câmpus do IFRN (ou representantes destes) e não houve praticamente nenhuma fala em favor do trabalhador. Em nenhum momento foram apontadas possibilidades de se discutir a decisão do TCU, nem instrumentos para manutenção da atual jornada de 6 horas. Pelo contrário, muitos dirigentes já queriam impor a jornada de 8h sem o diálogo e debate com a comunidade. Porém, tal postura já era esperada. O que não podemos esperar nem admitir é a absorção por parte dos trabalhadores desse discurso de que “nada mais se pode fazer”. É necessário esgotar até a última possibilidade e buscar todas as alternativas, dentro e fora do TCU. E jamais, jamais considerar a jornada de 30 horas semanais como uma benesse concedida pelos dirigentes. Essa é uma conquista nossa, dos trabalhadores.
Precisamos estar informados e atentos, pois a luta agora é para manter mais duas horas dos nossos dias aptas para usarmos como bem entendermos, como homens livres, e não produzindo para um governo que nos trata com todo o desprezo (vide as duas últimas greves e o resultado dos Grupos de Trabalho criados após as mesmas). A luta por uma jornada de trabalho digna é o que de mais sagrado temos enquanto classe trabalhadora. É a luta pela devolução da nossa vida para nossas mãos. Não nos esqueçamos disso e estejamos prontos para o enfrentamento em defesa de nossos direitos e conquistas até as últimas consequências.
*Shilton Roque exerce a função de técnico-administrativo no Câmpus Natal – Zona Norte. É filiado Sinasefe Natal e um dos coordenadores do Sinasefe Nacional.
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