Há algum tempo os sindicatos e instituições que criticam a condução da política pública em nosso país vinham soando como vozes isoladas e perdidas em meio ao espaço e tempo. Sons que pareciam sem eco, sem reflexão, sem significado.

Mas, recentemente, vemos um fenômeno que, certamente, será nominado de alguma forma pelos sociólogos, antropólogos e outros “ólogos” que estudam as relações humanas, um período onde fica claro que algo de significativo está acontecendo e partindo de uma juventude que entendíamos alienada, descrente, subjugada ao sistema e ao consumo. Eis que no repente das redes sociais surge um estopim, o transporte público. A falta de transparência nos aumentos das passagens de ônibus em várias cidades do país aponta mais uma vez para o casuísmo dos empresários e governantes, que monopolizam e cartelizam linhas, preços, salários. Mas, dessa vez foi diferente, a habitual passividade não foi regra, as redes sociais iniciaram um movimento que parecia pequeno, mas que aos poucos agigantou-se e contrariamente ao esperado, relembra os “cara pintadas” de vinte anos atrás. Em todo o país e em outras partes do mundo, um movimento que contagia, emociona, desperta, sacode, tira de casa, leva às ruas, às praças, aos prédios administrativos, mas também leva às delegacias e aos presídios sem julgamentos ou mandados.

Nossos governantes dizem não entender, mas sabem muito bem o que está acontecendo. O sistema financeiro virou as costas para a sociedade, nosso sistema político faz o mesmo. Então, o que resta é ir às ruas, protestar, buscar e aprender que, diferentemente do que nos ensinaram e tentam ratificar, a democracia está muito além do voto. A sociedade brasileira está deixando claro que essa política não nos representa mais, as pessoas que se mobilizam mostram que não querem partidos nos moldes dos que aí estão, não querem ideologia barata ou furtiva, querem profundas mudanças éticas. Alguns políticos querem negociar, mas sabem muito bem que não é negociável, a dignidade das pessoas não pode ser mais banalizada em corredores de hospitais, em ônibus e trens superlotados, na falta de segurança nas ruas, em obras superfaturadas ou mesmo aquelas que não saem dos papéis e gabinetes, em infindáveis pizzas e paraísos fiscais tão corriqueiros quanto previsíveis. A dignidade da sociedade não se negocia mais. A falta de educação, saúde, segurança, a corrupção e tantas outras coisas que ora aflora em revolta, sendo que tal movimento não precisa de líderes ou ícones, não precisa de mártires ou heróis, ele se autossustenta ao passarmos em frente a um hospital caindo aos pedaços, uma escola que não funciona, os médicos ou professores com os piores salários do país; quando passamos em frente a um suntuoso prédio do legislativo, aos estádios superfaturados, ao viaduto que nunca termina, à passarela cheia de buracos, ao descaso, às piadas que o povo brasileiro protagoniza na mídia oficial e entre os palácios administrativos de nosso estado de direito democrático.

O Sinasefe – Seção Natal, como tantos outros sindicatos, não pode ausentar-se nesse momento. Devemos firmar nossa posição de apoio a todos que participam dos protestos que ocorreram e que ainda virão na busca pelo resgaste de uma política que permita ruptura com o sistema corrupto vigente. Uma sociedade, verdadeiramente, democrática, ativa e participativa em todos os momentos de decisão, para que o grande capital lembre sempre que a sociedade de fato está exercendo seu direito e que não está disposta a esperar por quatro anos para mudanças.

Por isso, apoiamos a manifestação da Revolta do Busão, marcada para esta quinta-feira (20), com saída na parada do circular, ao lado do Via Direta. Estaremos lá, com nossas vozes e punhos ao alto, nos unindo ao grito dos jovens por uma sociedade mais justa e igualitária.

Sinasefe Natal

Fotos: acima, registro da Revolta do Busão em Natal, por Elias Medeiros; abaixo, manifestação em Brasília no último dia 17 de junho; e à direita, representantes do Sinasefe, presentes no protesto no Congresso Nacional na última segunda-feira.