Na noite de ontem (31/03), moradores de várias cidades brasileiras realizaram panelaços, apitaços e barulhaços contra Jair Bolsonaro pelo 15º dia consecutivo. O novo protesto, que aconteceu no momento do pronunciamento do Presidente em cadeia nacional de rádio e televisão, superou os anteriores em intensidade e voltou a pedir a saída de Bolsonaro com os gritos de “Fora Bolsonaro”“Acabou Bolsonaro” e “Ditadura Nunca Mais” – nesta quarta-feira (01/04) completaram-se 56 anos do golpe militar no país.

Em seu pronunciamento, Bolsonaro tentou convencer a população de que a fome que será sentida pelas camadas sociais mais vulneráveis será culpa das medidas de isolamento social contra o coronavírus (COVID-19).

Sentindo-se isolado politicamenteabandonado por alguns de seus principais ministrosperdendo apoio em redes sociais e cada vez mais criticado pela população, ele fez um pronunciamento menos agressivo que o de costume – o que já não importa, visto que nas últimas semanas Bolsonaro rejeitou a gravidade da pandemia e agiu como inimigo público número 1 da saúde e das vidas dos brasileiros, fazendo de tudo para proteger o ponto de vista dos empresários e minar a única política reconhecida para retardar o avanço dos casos.

Professando o negacionismo, esqueceu-se de ordenar ao ministro da economia, Paulo Guedes, que preparasse um plano de contingência com antecedência – e Guedes demorou a se mexer por conta própria. O plano vem sendo liberado só agora, à conta-gotas e de forma insuficiente, deixando muitos à mercê da própria sorte.

A concessão de uma renda básica já deveria ter acontecido há tempos para que essas famílias tivessem o que comer desde o início da quarentena, mas deve começar a chegar às mãos dos destinatários apenas na metade deste mês. O problema é que os informais são os mais difíceis de serem localizados e aqueles que já estão passando necessidades.

O Brasil começou a discussão sobre medidas para mitigar o impacto da crise quando já era tarde. Apenas na última segunda-feira (30/03), e graças à pressão de parlamentares, o Congresso Nacional aprovou a transferência de R$ 600 a R$ 1.200 para que os mais pobres sobrevivam ao coronavírus – cabe frisar que Paulo Guedes e Bolsonaro queriam que esse valor fosse de R$ 200!

Ao invés de negociar saídas à crise com a sociedade e os demais Poderes, Bolsonaro, do alto de sua ignorância, empenhou energias tentando nos convencer de que a pandemia da COVID-19 era uma “fantasia midiática”, uma “histeria”, uma “neurose”, uma “gripezinha”, um “resfriadozinho”, uma “bobagem” – tudo isso desafiando autoridades sanitárias como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o próprio Ministério da Saúde.

Bolsonaro acusou a imprensa de “espalhar a sensação de pavor”, apesar de ser graças à ela que a população está sendo alertada sobre os riscos e formas de prevenção. Atacou governadores que estão organizando ações de contenção ao vírus, criticando o fechamento de escolas e do comércio. E, como sempre, pensando primeiro em si mesmo e depois no país, passou a militar para que todos saíssem da quarentena, pois teme que uma recessão profunda enterre seus planos eleitorais vindouros.

Ele também comparou vidas com empregos em seu pronunciamento de ontem. Por mais que, desta vez, não tenha antagonizado ambos, tem sido claro que ele acredita que seu governo tem sim o direito de decidir quem vive e quem morre. Pois milhares de vidas, principalmente as mais pobres, podem ser sacrificadas em nome da economia e, portanto, de sua sobrevivência política.

Bolsonaro fez uma aposta de que a letalidade do coronavírus seria menor no Brasil. Se assim fosse, seria o único líder de um país demograficamente relevante que acertou ao não frear sua economia como medida de prevenção. Contudo, à medida em que a velocidade das mortes aumenta por aqui, Bolsonaro também freia lentamente sua narrativa irresponsável, contando que sua horda alucinada de fãs não tenha memória. Mas pelo barulho das panelas, que aumenta a cada um dos seus pronunciamentos, a população tem sim memória!

Há um parasita institucional entrincheirado no Palácio do Planalto. Mas, para além das mentiras, o discurso desta terça-feira (31/03) mostrou medo, algo que – apesar de sua notória covardia, ele não gosta de demonstrar. Bolsonaro, enfraquecido, sabe que a abertura de um processo de impeachment, interdição ou afastamento por insanidade pode ajudá-lo a reunir apoio através da vitimização. Sabe também que o Congresso Nacional está mais empenhado que o Poder Executivo a propor medidas às crises sanitária e econômica que ele, com suas ações insensatas, ajudou a ampliar.

Está visível que o país, no momento, não possui Presidente da República, mas apenas alguém que bota a faixa verde e amarela para falar bobagens e insuflar o próprio ego – sem se preocupar que isso custe vidas. Para o bem de todos, seria melhor esse alguém já ir saindo!

Texto publicado pela Comunicação da Direção Nacional do SINASEFE*