Com o intuito de celebrar o 1º de maio, Dia do/a Trabalhador/a, e debater importantes temas, o SINASEFE Seção Natal promoveu na última quarta-feira (04/05), a palestra “Educação, trabalho e democracia no Brasil”. A atividade contou com a presença do professor e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher; o professor, escritor, militante e educador popular, Jones Manoel; e a servidora pública e militante do Movimento Luta de Bairros (MLB) e do Movimento de Mulheres Olga Benário, Samara Martins.

A palestra foi mediada pelo coordenador de Formação Política e Sindical do SINASEFE Natal, professor Leonardo Guimarães, que após saudar os presentes, apresentou um resgate histórico sobre a temática, passando pela Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos no serviço público, pelos bloqueios orçamentários, as reformas trabalhistas e da Previdência, além dos ataques à educação com as portarias 983, a do teletrabalho e o Novo Ensino Médio.
Logo em seguida, o professor chamou os convidados para compor a mesa. Samara Martins iniciou o debate destacando a iniciativa do sindicato em ter convidado uma mulher para participar da mesa e ter trazido essa discussão para celebrar uma data muito importante, que é o Dia do/a trabalhador/a, e que essa data deve ser demarcada pela classe trabalhadora. “Lembrar o Dia do Trabalhador é importante porque ele surge na perspectiva de luta dos trabalhadores para garantir melhores condições de trabalho”, comentou.

Samara alertou que a uberização do trabalho, remonta ao mesmo problema dos trabalhadores que lutaram no primeiro de maio de 1886, pois tinham jornadas exaustivas de 14 horas por dia. “A liberdade do trabalhador é trabalhar exaustivamente por 14 horas diárias sem direito a nada. A tal da modernização do trabalho é a precarização do trabalho e é nesse contexto que nós, jovens, entramos no mercado de trabalho. É com essa tal de flexibilização, modernização, que a gente tem que aceitar tudo e achar legal, que Dia do Trabalho é dia de trabalhar, que não vamos participar de nenhuma luta e é isso que ficam repetindo pra gente o tempo inteiro para que a gente não se organize e não lute”.

A servidora também destacou que discutir a questão do trabalho com a luta pela democracia e pela educação é importante para entender que em regimes ditatoriais, autoritários e fascistas não é permitido reivindicar e questionar nada, que é nesse momento que se tira mais direitos dos trabalhadores e estudantes. “Defender a democracia é defender que nós tenhamos mais direitos e não aceite nenhum retrocesso. E é isso que nós temos feito nesses últimos tempos dizendo que esse governo que está aí não dá porque ele é antidemocrático. Ele tirou vários dos nossos direitos e aprovou leis que são terríveis para nós agora e a longo prazo”.

Samara disse ainda que governos como o de Bolsonaro, precisam atacar a educação para que não se formem seres pensantes e questionadores. “A educação é um poder e eles atacam com muita força porque não querem dar poder ao povo. Então, defender a educação no nosso país é de fato defender a democracia”, pontuou Samara.

Finalizando sua fala, a dentista destacou, “nosso dever é resistir para não retroceder, nós precisamos avançar nos nossos direitos, precisamos avançar para a construção de uma sociedade mais igualitária. A defesa da democracia é algo que a gente precisa fazer, é necessário fazer e precisamos organizar os trabalhadores, os estudantes, as mulheres, os negros, para poder fazer essa resistência, acreditando que e possível mudar”, finalizou Samara Martins.

Dando continuidade a palestra, o professor Leonardo Guimarães chamou para continuar a rodada de falas o militante e sociólogo, Jones Manoel, que iniciou o debate fazendo um resgate das greves no país no período de 2009 a 2010. De acordo com o estudioso, o período foi tão efervescente que conseguiu superar a média histórica das greves dos anos 80. Ele explicou que “tal acontecimento denunciava que apesar do número maior de trabalhadores e da maior regulação em torno do trabalho formal, a classe trabalhadora seguia sendo explorada”, pontuou Jones.

Jones explicou que o período de pleno emprego no país (governos Lula e Dilma) causou um mal estar na burguesia e em largos setores da classe média brasileira, que começou a ficar incomodada porque pobre começou a viajar de avião, a ir para o shopping, a integrar espaços de consumo que antes era restrito a outras classes. Essa mesma burguesia cobrou do governo um duríssimo ajuste fiscal para desacelerar o nível de crescimento econômico, causar uma recessão e jogar a taxa de desemprego nas alturas para enfraquecer o poder reivindicativo da classe trabalhadora, quebrar as pernas do sindicalismo e quem sabe passar uma série de contrarreformas para atacar os direitos trabalhistas, consequentemente aumentar a exploração da classe trabalhadora e aumentar a taxa de lucro.

Segundo Jones, para tentar acalmar a burguesia, o governo da presidenta Dilma cedeu e iniciou um ajuste fiscal, que aliado a operação Lava Jato, fragilizou a economia brasileira e dobrou a taxa de desemprego no Brasil em 10 meses. Mesmo com esse cenário negativo para a classe trabalhadora e para economia do país, Jones Manoel aponta que a burguesia ainda não estava satisfeita, pois desejava reduzir mais ainda o custo do trabalho, impulsionar o desemprego e o corte de direitos, extinguir os investimentos públicos e as chamadas políticas sociais. Um cenário que somente uma ruptura democrática seria capaz de produzir. Foi assim que em 2016, a burguesia depôs a presidente Dilma através de um golpe.

Jones enumerou quatro consequências objetivas desse processo: primeiro – desestruturação de um conjunto gigantesco de políticas públicas em um ritmo acelerado; segundo – redução dos custos do trabalho atacando a CLT, quebrando as pernas do sindicalismo; terceiro – privatização em massa para gerar novos espaços de acumulação privada e garantir que nunca mais se use as estatais como núcleo de uma política econômica de desenvolvimento – quarto: um pacote completo de desregulamentação ambiental.

“O Brasil está com a maior taxa de desemprego da história, com cerca de 70 a 80 milhões de brasileiros desempregados, e tá tudo bem para a burguesia, pois ela teve uma das melhores taxas de lucro dos últimos cinco anos, de acordo com estudos do professor Eduardo Costa Pinto. A população está cada vez mais pobre, cada vez mais desemprego, cada vez mais miséria, cada vez mais fome, cada vez mais cortes de políticas públicas e de investimento público e a burguesia com lucros recordes”, pontuou Jones Manoel, que finalizou sua apresentação enfatizando que “temos um desafio fundamental, reconstruir os níveis de emprego no Brasil para conseguir mudar a correlação de forças e assim reconstruir o sindicalismo brasileiro”.

Finalizada a fala de Jones Manoel, Roberto Leher iniciou suas contribuições no evento após uma breve apresentação feita pelo professor Leonardo Guimarães. O professor começou sua apresentação comentando da sua alegria em voltar aos eventos presenciais e da importância da rede federal. “Nós temos hoje uma rede extremamente capilarizada. Pela primeira vez nós podemos falar de uma rede federal que está em distintas regiões, o que significa que nós estamos incorporando uma extensa juventude e não somente nas grandes capitais, mas também estamos chegando a outras frações da classe trabalhadora, isso tanto nas cidades pequenas dos nossos estados como também nas periferias das grandes cidades”, exaltou o educador.

Para o professor, a Rede Federal de Ensino, mesmo com muitas contradições, tem passado por uma mudança do perfil social dos seus estudantes e isso permite que as Universidades e com mais intensidade os Institutos Federais, sejam hoje espaços de vibração da vida. Essa característica possibilita que discussões importantes aconteçam com uma juventude imensa que até então, não teria acesso a essas temáticas.

Roberto alertou que apesar desses avanços, continua sendo muito difícil implementar uma educação politécnica no Brasil, pois ela vai de encontro com os interesses do capitalismo. “Na raiz da educação politécnica está a perspectiva que estava na Comuna de Paris e que foi teorizada por Gramsci, de que a formação no mundo do trabalho deve recusar a distinção entre quem pensa e quem executa, quem manda e quem obedece. Vejam que essa é uma ideia radicalmente socialista e que vem carregada de possibilidades inventivas e os Institutos Federais são herdeiros dessa ideia, o que justifica os ataques que estão sofrendo nesse governo”, explicou o professor.

O educador apontou que a educação sob a hegemonia burguesa tem uma densidade de perspectiva de futuro que é extremamente sólida e extremamente presente na vida de cada um de nós. Segundo Roberto, os setores burgueses possuem aparelhos privados de hegemonia extremamente qualificados e estruturados para disputar os rumos da Educação. “Esses aparelhos cumprem uma função clássica de partido. Primeiro – definem uma agenda, um projeto, um programa; segundo – organizam frações burguesas afins, quem faz isso mais brilhantemente no Brasil é o “Todos pela Educação”; terceiro – fazem uma proposição para o conjunto da sociedade, de forma que essa proposição seja percebida não como uma proposição dos setores burgueses, mas como uma agenda necessária para as escolas públicas, para os municípios, como uma proposição generosa dos setores burgueses para a sociedade. Mais luta de classes do que isso é impossível, é a luta organizada de uma classe”, alertou o professor.

Roberto disse ainda que a sociedade e mais precisamente a esquerda não acompanhou com muita atenção a emergência e a crescente organicidade das frações de extrema direita de características neofascistas e enfatizou que o bolsonarismo, que vai além de Jair Bolsonaro, acionou disposições ideológicas que já estavam presentes na nossa sociedade, racistas, homofóbicas, reacionárias e negacionistas.

A palestra foi encerrada com uma rodada de perguntas dos participantes presentes no encontro e no final do evento, o professor Leonardo Guimarães agradeceu a participação de todos e todas e ressaltou a importância da participação dos servidores nas atividades do sindicato. Leonardo finalizou a palestra lembrando que “não existe democracia sem trabalho, não existe democracia sem educação, não existe democracia sem alimentação, não existe democracia sem moradia. Democracia não é só tirar o título e votar em outubro, tem muito mais que a gente precisa fazer diariamente com todos os nossos pares para que um dia essa democracia se estabeleça no Brasil”.

A palestra na íntegra pode ser vista no nosso canal no Youtube, no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=LxBwyh3Ib0w

Todas as fotos do evento podem ser conferidas no álbum no nosso site: https://www.sinasefern.org.br/04-05-2022-palestra-educacao-trabalho-e-democracia-no-brasil/

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